Dezoito Libras Redondas
André de J. Torres
Mesmo depois de ensaiar as peças e autos de Sardino - E posteriormente traduzi-las para o Esperanto, Leonard Snicket sentia-se profundamente desocupado. Por isso recalibrou as válvulas do quadro de controles e checou os mostradores uma terceira vez. Dezoito libras redondas. Então pegou um tubo de gelatina sabor rosbife e juntou-se a seu primeiro oficial, o cachorro cosmonauta Rinti, para um último carteado antes do jantar.
Você não teria um Rei de Copas, perguntou ao cão, teria? Em resposta Rint não esboçou qualquer reação que diferisse em gênero ou grau do costumeiro ar de euforia e desprendimento. Fez sua jogada. Havia cinquenta dias que vagavam à deriva pelo espaço vazio. Nesse meio tempo, enquanto Leonard esquadrinhava os mapas em sua escotilha, Rint revelou-se um exímio jogador de poker texano, superando com maestria bípede nunca antes vista os estratagemas tricromáticos de seu compatriota humano. Dobrou a aposta.
Eventualmente o já mencionado Leonard Snicket muito se entretinha em puxar a alavanca que fazia baixar o periscópio, através do qual podia - com alguma dificuldade, vislumbrar o Universo em sua infinita inércia de entropia e destruição. Por hora contentava-se com a gelatina de rosbife, e quem sabe uma de espaguete.
Virou as cartas. Aparentemente a Tetrarquia de Reis acabou por derrotar o liberalismo francês de sua trinca de oitos, legitimando sua teoria sobre a história estar em constante repetição. Por fim registrou suas conclusões e mais uma porção de metáforas náuticas e aspirações pessoais no diário de bordo do Capitão, encerrando o capítulo Um de suas viagens pelo espaço com um medido ponto final.
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